Projeto de Pesquisa: Os Sentidos Alienados

Detalhes do Projeto

Link para o vídeo: Assista aqui

Duração: fevereiro 2021 – abril de 2023

A questão norteadora desse projeto refere-se ao problema da alienação dos sentidos a partir da manipulação objetos e sistemas que recentemente foram considerados como mídias, tais como lâmpadas, bonecas, máquinas de lavar, aspirador robô.

Na relação interativa com esses objetos/mídias domésticos, o indivíduo contemporâneo não seria capaz de perceber seus sentidos, não saberia nomear suas percepções e estaria consumindo formas artificiais de estímulos para significar sua experiência, o que poderia estar ocasionando uma forma de capitalismo sensorial.

Podemos construir uma narrativa imaginária para ilustrar esse cenário, como um relato de um cotidiano possível:

"Alguns minutos antes de deixar a mesa no local de trabalho, o indivíduo recebe um alerta no seu telefone sobre o ciclo de lavagem de sua lavadora de roupas. Sabendo que a previsão de sua chegada em casa está estimada para os próximos quarenta minutos, ela - a máquina de lavar roupas deseja confirmar se a roupa deve ser centrifugada ou totalmente seca para a retirada do tambor, coincidindo o fim do ciclo com a chegada em casa. Essa tecnologia está disponível atualmente para qualquer consumidor que possa pagar por uma lavadora com função secagem e conectada a uma rede digital sem fios, uma rede wifi."

Seguindo a trilha desse imaginário, "ao se aproximar do portão de casa, o aplicativo das lâmpadas inteligentes reconhece a localização geográfica do indivíduo e, automaticamente, e de modo suave, ilumina a entrada, o corredor e o restante da casa por onde ele passa, dando boas-vindas e revelando o aconchego do lar. Depois de entrar e acomodar seus pertences, a secretária virtual avisa que a máquina finalizou o ciclo escolhido para a roupa, e começa a ler as mensagens que nosso personagem recebeu enquanto estava em trânsito."

Aqui estamos falando das lâmpadas de tecnologia inteligente Philips Hue e nossa secretária mais popular é a Alexa. Tudo isso já existe. Mesmo o imaginário ou as tecnologias não são novos, até aqui nenhuma novidade.

A questão fica interessante ao colocar esses objetos domésticos comuns ao nosso cotidiano como mídias. Eles não podem ser apenas tratados como eletrodomésticos, aparelhos, ou objetos utilitários. Eles são mídias: conectam-se entre si, conectam-se com outras mídias, e conectam-se com o ser humano; informam e são informados; constroem inteligência a partir dos dados que armazenam e conectam; armazenam dados que podem ser usados por outros sistemas.

A proposta desse projeto seria iniciar uma discussão sobre a ideia de Capitalismo Sensorial - dando sequência às pesquisas sobre a Comunicação Multissensorial (ERTHAL, 2018) - e que tem como objetivo conectar os sentidos à experiência do consumo via tecnologias digitais.

Trata-se de uma pesquisa que envolve a antropologia dos sentidos, a comunicação multissensorial, a abordagem Gestalt da psicologia e o capitalismo tardio, e que, portanto, envolve o entendimento de discursos convergentes e divergentes, complementares ou independentes, que buscam explorar mercantilização dos sentidos por meio de criação de estímulos (demandas ou objetos de consumo) artificializados pelas (novas) tecnologias e (novas) mídias digitais inteligentes.

Palavras-chave: internet das coisas, percepção sensorial, comunicação multissensorial, capitalismo sensorial.